O objetivo derradeiro da vida de acordo com o estoicismo e as demais escolas de filosofia da Grécia antiga é a Eudaimonia. Pense nisso como sendo suprema felicidade ou realização alcançável por seres humanos. Uma Boa Vida, uma vida prospera, elevada e fluindo em harmonia.
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Pensamento 87: Mude a si mesmo
“Ontem eu era esperto, então queria mudar o mundo.
Rumi
Hoje sou sábio, então estou mudando a mim mesmo.”
Muda-se o mundo quando você muda a si próprio, e não impondo mudança aos outros.
Maulana Jalaladim Maomé, também conhecido como Rumi de Bactro foi um poeta, jurista e teólogo sufi persa do século XIII.
Pensamento 84: Amor Fati – Ame tudo o que acontece
Fora do tópico estoicismo, mas interessante. A velhinha não deixa de ser estoica, praticando o amor fati
Na mitologia grega, Caronte (em grego: Χάρων) é o barqueiro do Hades, que carrega as almas dos recém-mortos sobre as águas do rio Estige e Aqueronte, que dividiam o mundo dos vivos do mundo dos mortos.
Pensamento #83: Foque no que é seu encargo
“Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o desejo, a repulsa –em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos –em suma: tudo quanto não seja ação nossa. ” Manual de Epicteto [1.2]
Devemos distinguir cuidadosamente o que é “nosso encargo“, ou seja, algo sob nosso próprio poder, e o que não é. São nosso encargo nossas escolhas voluntárias, a saber, nossas ações e julgamentos, enquanto todo o resto não está sob nosso controle.
Ver mais em Princípio Estoico #3: Concentre-se no que pode controlar, aceite o que não pode
James Stockdale: Um Filósofo em ação no Vietnã
Abaixo artigo de Aldo Dinucci sobre o filósofo-militar James Stockdale. (Socrates também foi soldado). Artigo publicado originalmente em Estoicismo Artesanal.
STOCKDALE: UM FILÓSOFO EM AÇÃO NO VIETNÃ

James Bond Stockdale era já um experiente piloto de caça da Marinha Norte-Americana quando entrou em contato pela primeira vez com a filosofia e com Epicteto. Tinha 42 anos, estudava relações internacionais em Stanford e acidentalmente se encontrou com o então decano do departamento de ciências humanas, Philip Rhinelander. Era o ano de 1962, e Rhinelander ministrava seu famoso curso intitulado “Os Problemas do Bem e do Mal”, para o qual o decano convidou Stockdale. Como o piloto iniciara o curso com atraso, Rhinelander encarregou-se de dar-lhe aulas particulares. Stockdale, então, descobriu uma inusitada vocação para a filosofia. Ao final do curso, Rhinelander presenteou-o com um livro que mudaria sua vida: O Manual de Epicteto. Como nos diz o próprio Stockdale:
Rhinelander simplesmente pensou que Epicteto e eu poderíamos fazer um bom par, e ele estava certíssimo. Eu nunca tinha ouvido falar de Epicteto; de fato, hoje o reconhecimento de seu nome está no terceiro escalão dos filósofos. Mas sua mente é de primeiro escalão. (Stockdale, Tríade do Guerreiro estoico, p. 13-4)
Stockdale, devido ao seu treinamento de piloto, rapidamente leu e decorou os 52 capítulos do Manual de Epicteto. Três anos depois, o piloto teria a oportunidade de pôr à prova os ensinamentos do Manual: seu A4 foi abatido durante missão no Vietnã. Apesar de conseguir ejetar-se a tempo e chegar ao solo são e salvo, foi espancado pelos vietnamitas que o avistaram, o que lhe valeu um joelho permanentemente lesionado, e levado como prisioneiro. Stockdale passaria os próximos sete anos e meio como prisioneiro de guerra no Vietnã.
As singulares circunstâncias que levaram Stockdale à filosofia e à sua prática fizeram dele um tipo de intelectual pouco frequente na pós-modernidade. Hoje, é dito filósofo o profissional que faz exegeses de textos filosóficos e que leciona ou escreve sobre suas exegeses. Entretanto, na Antiguidade, o termo “filósofo” tinha uma conotação mais ampla. Era dito filósofo: (1) o autor de reflexões, teorias e conceitos filosóficos que não escrevem obras visando a publicação (como Sócrates e Epicteto); (2) quem põe em prática concepções filosóficas, quer escreva sobre elas ou não (como Agripino e Catão); (3) quem escreve sobre filosofia, seja sobre suas ideias próprias e originais (como Platão e Aristóteles), seja transcrevendo concepções alheias (como Xenofonte e Flávio Arriano). Isso porque, como observa Hadot (Forms of life and forms of discourse, p. 56-7), na Antiguidade, ser filósofo significava primariamente assumir um modo de vida radicalmente distinto do usual, o que levava o filósofo a uma ruptura com o senso comum. Assim, diante do simples cidadão, o filósofo se mostrava como átopos, não classificável, estranho (Hadot, ibidem, p. 57-8). De algum modo essa concepção do filósofo como “louco” ainda resiste no senso comum, embora, hoje, nossos filósofos nada sejam senão pacatos cidadãos de classe média, virtualmente indistinguíveis do homem comum. Na Antiguidade, por outro lado, ser filósofo significava ser e agir de modo diferenciado, isto é, vivificar um ethos da filosofia por ele abraçada. Em outros termos, era dito filósofo, na Antiguidade, o que, por escolha própria, adotava uma vida filosófica. Como nos diz Hadot:
Cada escola então representa uma forma de vida definida por um ideal de sabedoria. O resultado é que cada uma possui sua atitude inerente fundamental correspondente […] Acima de tudo cada escola pratica exercícios projetados para garantir progresso espiritual rumo ao estado ideal de sabedoria, exercícios da razão que serão, para a alma, análogos ao treinamento do atleta ou à aplicação da cura médica.
(Hadot, ibidem, p. 59)
Essa transformação através da adoção de um novo modo de vida, um modo de vida filosófico, é entusiasticamente percebida por Stockdale:
Eu pensava que era óbvio para meus amigos mais íntimos, como certamente o era para mim, que eu era um homem mudado, e digo mais, um homem melhor por ter sido introduzido à Filosofia e especialmente a Epicteto. Eu estava trilhando um caminho diferente […] Eu tinha me tornado um homem imparcial – não indiferente, mas imparcial – capaz de lançar fora o livro de normas sem a menor hesitação quando ele não mais fizesse frente às circunstancias externas […] Esse novo desapego e essa nova flexibilidade que eu adquirira me foram cobrados mais tarde, na prisão.
(Stockdale, Coragem sob fogo, p. 12)
Assim, podemos dizer, Stockdale é primariamente filósofo no sentido de quem adota um estilo de vida filosófico. Mas também o é no sentido de quem escreve sobre suas reflexões filosóficas.
A tradução portuguesa do livro de Stockdale Coragem Sob fogo pode ser obtida aqui.
Pensamento 81: Ensinamentos de Sêneca para o dia das mulheres
Sêneca escreveu dois diálogos de consolação endereçados a mulheres, um para sua mãe, na época de seu exílio e outro a Marcia que se encontrava inconsolável com a morte do filho. Em ambos textos Sêneca aponta que as mulheres, mesmo com características distintas dos homens, são igualmente capazes intelectualmente:
“No entanto, quem diria que a natureza tem tratado com rancor as mentes das mulheres, e atrofiado suas virtudes? Acredite, elas têm o mesmo poder intelectual que os homens, e a mesma capacidade de ação honrada e generosa. Se treinadas para isso, elas são igualmente capazes de suportar a tristeza ou o trabalho.” (Consolação a Marcia, XVI, 2)
“Por isso incito-lhe a procurar refúgio onde todos os que procuram conforto para suas mágoas deviam refugiar-se: nos estudos da filosofia. Oh! se meu pai, que era o melhor dos homens, mas estava demasiadamente preso aos costumes dos antepassados, tivesse desejado que você fosse ensinada ao invés de informada somente dos preceitos da sabedoria! ” (Consolação a Minha Mãe Hélvia XVII, 4-5)
Os estoicos, juntos com os cínicos, mesmo usando linguagem que hoje seria considerada sexistas, foram os primeiros a defender que as mulheres têm as mesmas capacidades intelectuais que os homens e que seria útil educa-las igualmente aos homens em filosofia.
Dos seguidores da nossa página no facebook, apenas 21% são mulheres, não sei explicar o porquê.
Pensamento #80: Epicteto, XLI – É sinal de incapacidade ocupar-se excessivamente com as coisas do corpo
Texto de Aldo Dinucci, publicado originalmente no blog Estoicismo Artesanal.
“É sinal de incapacidade ocupar-se excessivamente com as coisas do corpo, tal como se exercitar muito, correr muito, beber muito, sair constantemente para aliviar-se, fazer sexo em demasia. É preciso fazer essas coisas como algo secundário: que a atenção esteja toda voltada para o pensamento.”
Epicteto, Manual, capítulo XLI em Tradução Aldo Dinucci
Comentário:
Diz-nos Aulo Gélio (Noites Áticas, III, XIX, ii, 7-8): “Sócrates costumava dizer que os homens desejam viver para comer e beber, mas ele comia e bebia para viver”. O Estoicismo reafirma essa posição socrática, segundo a qual fazer do prazer a razão do viver é pôr-se sob o domínio da externalidade. Porém, não há aí uma condenação do prazer: ele será bom se o humano usufrui-lo mantendo-se senhor de si mesmo. Além disso, muitas vezes será bom evitar certos prazeres para que o humano, fortalecendo-se, possa suportar determinados sofrimentos. Por exemplo: quem se habituar a uma alimentação requintada terá problemas quando precisar servir-se de alimentos simples; quem se habituar a ser transportado de lá para cá terá problemas quando precisar caminhar. A função do prazer será, como nos diz Epicteto, secundária: um refrigério que nos ajudará a viver (e não algo em razão do que devamos viver).
Cumpre notar que a própria razão nos diz que, às vezes, é preciso nos afastar dela. O ideal de homem do estoicismo não é um monge de pedra, não é monge algum, mas é um homem integralmente forte, um guerreiro que luta com as armas da razão buscando sua felicidade e, através dela, a felicidade dos demais. Mas o filósofo-guerreiro tem de descansar no intervalo das lutas. Sem isso, tornar-se-á um escravo da própria razão. E, como a sabedoria não admite ninguém como escravo, ela mesma nos ensina sobre a necessidade de buscarmos de quando em vez o devaneio e o descanso. Quanto a isso, diz-nos Sêneca (Da Tranquilidade da Alma, xvii):
[4] Não se deve manter a mente igualmente na mesma intensidade (tensão), mas deve-se distrai-la com jogos e brincadeiras. Sócrates não enrubescia quando brincava com crianças… [5] Deve-se dar descanso aos espíritos; repousados, se levantam melhores e mais agudos. Do mesmo modo que não se deve exigir fertilidade à terra —pois, nunca repousando, sua fecundidade rapidamente se exauriria ,— assim também o assíduo labor despedaça o ímpeto dos espíritos, que receberiam forças tendo relaxado e descansado; nasce da constância dos trabalhos dos espíritos um certo entorpecimento e langor… [8] Deve-se ser indulgente com o espírito e dar-lhe de vez em quando tempo livre que lhe conceda espaço para se alimentar e se fortalecer. E deve-se deixá-lo vagar em espaços abertos, para que o espírito se eleve e se estenda no céu aberto e no ar pleno; [10] pois ou acreditamos no poeta grego Menandro, que nos diz que ‘De vez em quando é agradável enlouquecer,’ ou em Platão, que nos diz que ‘Em vão bateu às portas da poesia quem estava senhor de si mesmo’ (Fedro, 222, 245 a), ou em Aristóteles, que nos diz que ‘Não existe grande gênio sem mescla de loucura’. (Tradução do latim: Aldo Dinucci)
Pensamento #79: O estoicismo de Buster Scruggs
“Misantropo? Eu não odeio os outros homens. Mesmo quando são incômodos e desagradáveis, e tentam trapacear no pôquer, para mim isso faz parte da natureza humana. E aquele que encontra nisso razão para ficar consternado ele que é um tolo por ter altas expectativas.” Buster Scruggs.
Uma pitada de sabedoria estoica no filme : “A Balada de Buster Scruggs“, excelente filme dos irmãos Coen. São seis estórias separadas passadas no velho oeste, em todas elas se encontra um bom tanto de estoicismo. Recomendo.
Mais na crítica de Brian Denton
(imagen capturada do Netflix)
Pensamento #78: Não seja infeliz antes da crise chegar
“Existem mais coisas, Lucílio, suscetíveis de nos assustar do que existem de nos derrotar; sofremos mais na imaginação do que na realidade. … O que eu aconselho você a fazer é, não ser infeliz antes que a crise chegue; já que pode ser que os perigos que o empalidecem como se estivessem o ameaçando agora, nunca cheguem sobre você; eles certamente ainda não chegaram.”
Pensamento #77: Aceite tudo o que acontece
Amor fati: Se você decidir não ver alegria na neve você terá menos alegria e a mesma quantidade de neve.
Serve para o calor e sol igualmente.
“Não busques que os acontecimentos aconteçam como queres, mas quere que aconteçam como acontecem, e tua vida terá um curso sereno”. (Manual de Epicteto, VIII,1 – Tradução de Aldo Dinucci)
(Foto do quintal de casa)