Pensamento #75: Dicotomia estoica do controle

“Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o desejo, a repulsa –em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos –em suma: tudo quanto não seja ação nossa. ” Manual de Epicteto [1.2]

Esta passagem, encontrada no início do livro é fundamental para os ensinamentos da filosofia estoica. É denominada “dicotomia estoica do controle“, o princípio mais característico do estoicismo. Devemos distinguir cuidadosamente o que é “nosso encargo“, ou seja, algo sob nosso próprio poder, e o que não é. São nossos encargos as escolhas voluntárias, a saber, nossas ações e julgamentos, enquanto todo o resto não está sob nosso controle.

O termo “encargo” pode gerar confusão, a tradução mais comumente usada em inglês pode ajudar a compreensão: “up to you“.

Aprofunde-se no tema com o Princípio Estoico #3: Concentre-se no que pode controlar, aceite o que não pode.

Livros:

Pensamento #74: O desejo e a felicidade não podem viver juntos

O desejo e a felicidade não podem viver juntos.” —  Epicteto

Ou de forma mais detalhada e próxima ao original:

“É completamente impossível unir a felicidade com um anseio pelo que não temos. A felicidade tem tudo o que ela quer, e que se assemelha ao bem alimentado, não deve haver nele qualquer fome ou sede.”- Epicteto, Discursos, III, 24

(imagem roubada da internet, autor desconhecido)

Pensamento #73: Bons ventos, só para quem sabe onde está indo.

O arqueiro deve saber o que ele está tentando atingir, então deve apontar e controlar a arma por sua habilidade. Nossos planos malogram porque não têm objetivo. Quando um homem não sabe para qual porto ele está indo, nenhum vento é certo. O acaso tem assim, necessariamente, muito peso na nossa vida, porque nós vivemos ao acaso, sem objetivos.

Sêneca, Carta 71, §3

Não viva ao acaso! tenha objetivos.

Pensamento #72: Sofrimento, Honra e Prazer

Quando eu ainda era um menino na escola, ouvi dizer esse ditado grego, e como o sentimento é verdadeiro e marcante, bem como nítido e polido, eu fiquei muito feliz em memorizá-lo. “Caso alguém realize algo nobre embora com sofrimento, o sofrimento passa, mas a nobreza permanece; Caso faça algo desonroso com prazer, o prazer passa, mas a desonra permanece“.

Depois, li esse mesmo sentimento em um discurso de Catão, que foi proferido em Numantia. Embora se expresse de forma um pouco menos compacta e concisa, em comparação com o grego que citei, mas por ser anterior e mais antigo, pode parecer mais impressionante. As palavras de seu discurso são as seguintes: “Considere isto em seus corações: se você realizar algum bem acompanhado com trabalho, a labuta rapidamente deixará você; mas se você fizer algum mal acompanhado com prazer, o prazer passará rapidamente, mas a má ação permanecerá com você sempre“.

Fragmento 51 de Musonio RufoProfessor de Epicteto.

Pensamento #71: Amor Fati

Crisipo, o terceiro escolarca da escola estoica criou uma metáfora poderosa: o cão atrelado a uma carroça:

Imagine um cão preso a uma carroça em movimento. A coleira é longa o suficiente para que o cão tenha duas opções:
1) ele pode seguir suavemente a direção da carroça, sobre a qual ele não tem controle e ao mesmo tempo aproveitar o passeio; ou
2)ele pode obstinadamente resistir a carroça com toda sua força e acabar sendo arrastado pela viagem.

Nós somos esse cachorro. Ou fazemos o melhor da viagem ou lutamos contra cada pequena decisão que o condutor faz. Nos escolhemos. Sejamos um cão sábio e aproveitemos o passeio. Mesmo que o condutor escolha uma estrada rica em obstáculos.

Mais tarde Epicteto coloca dessa maneira:

Não busques que os acontecimentos aconteçam como queres, mas quere que aconteçam como acontecem, e tua vida terá um curso sereno”. 

Manual de Epicteto [8.1]

Pensamento #70: Controle seu medo, parte 2


Sêneca continua a carta 13 dizendo:

Assim, algumas coisas nos atormentam mais do que deveriam; algumas nos atormentam antes do que deveriam; e algumas nos atormentam quando não deveriam nos atormentar. Temos o hábito de exagerar, imaginar, antecipar, a tristeza. A primeira dessas três faltas pode ser adiada no momento, porque o assunto está em discussão e o caso ainda está no tribunal, por assim dizer. O que eu chamo de insignificante, você considerará a ser mais grave; pois é claro que eu sei que alguns homens riem enquanto são açoitados, e que outros estremecem com um tapa orelha. Consideraremos mais tarde se esses males derivam seu poder de sua própria força ou de nossa própria fraqueza.” (XIII, 5)

Pensamento #69: Controle seu medo

Na carta 13 Sêneca diz:

Existem mais coisas, Lucílio, susceptíveis de nos assustar do que existem de nos derrotar; sofremos mais na imaginação do que na realidade.  … O que eu aconselho você a fazer é, não ser infeliz antes que a crise chegue; já que pode ser que os perigos que o empalidecem como se estivessem o ameaçando agora, nunca cheguem sobre você; eles certamente ainda não chegaram.”

Pensamento #67: Saiba o que é indiferente

Atenção, “indiferente” para o estoicismo não é o que o senso comum acredita.

As coisas boas incluem as virtudes cardeais sabedoria,  justiçacoragem e autodisciplina.  As coisas ruins incluem os opostos dessas virtudes, a saber, os quatro vícios: ignorânciainjustiçacovardia e indulgência. As coisas indiferentes incluem todo o resto. São externas.

Onde ler as citações:

Seneca:

Marco Aurélio:

Epicteto:


Pensamento #64: Não deixe que a ação de homens maus afete seu humor

“Considere que aquele que não quer que o homem mau faça o mal, é semelhante ao homem que não quer que a figueira produza fruto nos figos, e que as crianças chorem, e o cavalo rinche, e tudo mais que deve ser por necessidade.”

Marco Aurélio, Meditações XII, 16

Para aqueles que estão inconformados ou surpreendidos com a decisão do Senado de reajustar salários dos funcionários públicos, lembrem-se do ensinamento de Marco Aurélio: de onde menos se espera é de onde não sai nada, mesmo.

Não deixe que a ação de homens maus afete seu humor.