Resenha: Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres por Diógenes Laércio

Li o livro sobre os estoicos de Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres por Diógenes Laércio em tradução publicada pela Montecristo Editora.

Trata-se de uma compilação da vida e as ideias dos mais importantes pensadores gregos. É principalmente uma história da vida dos filósofos, tendo a filosofia defendida por estes apenas como parte acessória do texto.

Começa com a vida de Zenão, o fundador do estoicismo, narrando como ele veio a ter contato com a filosofia, como estudou com os cínicos e depois criou sua própria linha de pensamento. Outro grande mérito da obra é a narrativa viva da atmosfera do mundo antigo, via numerosos detalhes anedóticos das vidas dos mestres:

A um rapaz que falava tolices suas palavras foram: “A razão de termos duas orelhas e somente uma boca é que devemos ouvir mais e falar menos.” (VII, 23)

Apolônio de Tiro conta  a seguinte anedota: quando Crates o puxou pelo manto para afastá-lo de Estilpo, Zenão disse: “Os filósofos dispõem de um meio excelente, Crates: atacar os outros pelos ouvidos. Persuada-me, então, e leve-me contigo; mas, se me levar à força, meu corpo estará contigo, porém a alma permanecerá com Estilpo.” (VII, 24)

Após a biografia de Zenão, vem o componente principal do livro, a Exposição da filosofia estoica por Diógenes Laércio. Esta sem dúvida constitui a fonte principal para o conhecimento do estoicismo grego, e é importante para o estudo do ceticismo e das ramificações da filosofia socrática bem como do epicurismo. Os parágrafos 39 a 159 são o cerne da obra e merecem leitura atenta. Alguns trechos:

  • Os estoicos dividem a filosofia em três partes: física, ética e lógica. (…) comparam a filosofia a um ser vivo, onde os ossos e os fibras correspondem à lógica, as partes carnosas à ética e a alma à física. Ou então comparam a um ovo: casca à lógica, a parte seguinte (a clara) à ética, e a parte central (a gema) à física. (VII, 39-40);
  • Afirmam que é extremamente útil o estudo da teoria dos silogismos. Ela ensina o método demonstrativo, que contribui consideravelmente para a formação correta dos juízos, para sua disposição e para sua memorização, e ensina ainda a adquirir com bastante segurança conhecimentos científicos. (VII, 45);
  • Por isso Zenão foi o primeiro, em sua obra Da Natureza do Homem, a definir o fim supremo como viver de acordo com a natureza, ou seja, viver segundo a excelência, porque a excelência é o fim para o qual a natureza nos guia. (VII, 87);
  • Segundo os estoicos, a alma se compõe de oito partes: os cinco sentidos, o órgão vocal, a faculdade de pensar (que é a própria mente) e a faculdade geradora. Do falso resulta a perversão do pensamento, e dessa perversão resultam muitas paixões causadoras de instabilidade. (VII, 110);

Após o resumo do estoicismo, Laércio passa para a biografia dos discípulos e sucessores de Zenão, indicando os pontos sobre os quais estes estoicos se diferenciaram do mestre. Os filósofos descritos são Aríston, Hérilos, Dionísio, Cleantes, Esfero e Crísipo.  Infelizmente parte da obra foi perdida e o texto termina abruptamente durante o relato da vida de Crísipo, sabe-se que continuava com outros 13 filósofos.

Alguns trechos são pouco interessantes, e têm linguagem estranha. De toda forma é uma excelente leitura para quem quer conhecer os primórdios do estoicismo.

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