Princípio Estoico #4: Separe as coisas como sendo boas, ruins e indiferentes

“Sobre as coisas: algumas são boas, algumas são ruins, e algumas são indiferentes. as Boas, então, são virtudes, e as coisas que participam das virtudes, as Más são contrárias, e as indiferentes são a riqueza, a saúde, a reputação”.   Epiteto – Discursos (II.9)

Os estoicos distinguiam coisas como sendo “boas”, “más” e “indiferentes”.

As coisas boas incluem as virtudes cardeais sabedoria,  justiçacoragem e autodisciplina.  As coisas ruins incluem os opostos dessas virtudes, a saber, os quatro vícios: ignorânciainjustiçacovardia e indulgência. As coisas indiferentes incluem todo o resto. São externas.

Agora, o que mais impressiona é o fato de que as coisas tidas como indiferentes pelo estoicismo são exatamente o que as pessoas hoje em dia julgam como boas ou más. No entanto, essas coisas indiferentes não ajudam nem prejudicam nosso desenvolvimento. Elas não desempenham um papel necessário à Vida Feliz. A indiferença não significa frieza. Ser indiferente às coisas indiferentes não significa não fazer diferença entre elas, mas aceitá-las como são.

Mas ser saudável é melhor do que ficar doente, certo?

Sim. Embora as coisas indiferentes não possam realmente ser “boas”, algumas são mais valiosas do que outras e preferíveis a elas. Portanto, os estóicos diferenciaram coisas indiferentes “preferidas” e “despreferidas“. É uma interpretação bastante lógica. As coisas positivas e indiferentes, como boa saúde, amizade, riqueza e boa aparência, foram classificadas como indiferentes preferenciais, enquanto seus opostos eram indiferentes despreferidos.

As pessoas sempre preferem a alegria sobre a dor, a riqueza sobre a pobreza e a boa saúde sobre a doença – então vá em frente e procure por essas coisas, mas não quando isso põe em perigo a sua integridade e virtude. Em outras palavras, é melhor suportar a dor, a pobreza ou a doença de maneira honrosa do que buscar alegria, riqueza ou saúde de forma vergonhosa.

Sêneca diz em sua carta 82:

“Eu classifico como ‘indiferente’ – ou seja, nem o bem nem o mal – a doença, a dor, a pobreza, o exílio, a morte. Nenhuma dessas coisas é intrinsecamente gloriosa; mas nada pode ser glorioso além delas. Pois não é a pobreza que louvamos, é o homem a quem a pobreza não pode humilhar ou dobrar. Nem é o exílio que louvamos, é o homem que se retira para o exílio no espírito em que teria enviado outro para o exílio. Não é a dor que louvamos, é o homem a quem a dor não coagiu. Ninguém elogia a morte, mas o homem cuja alma a morte tira antes que possa amaldiçoa-la.  Todas estas coisas não são em si nem honradas nem gloriosas; mas qualquer uma delas que a virtude tem visitado e tocado é feita honrada e gloriosa pela virtude; elas se limitam ao meio, e a questão decisiva é apenas se a maldade ou a virtude tem sobrepujado sobre elas. Por exemplo, a morte no caso de Catão é gloriosa.” (Carta 82. 10-12).

O único bem é a virtude, que está em nosso encargo. O único mal é o vício, que também está em nosso encargo. Tudo o mais é indiferente  porque não depende de nós. Portanto, não é o que você tem ou não tem, mas o que você faz com isso que importa. O que conta são suas ações. É tudo o que você controla.

(imagem A escolha entre a Virtude e o Vício por Frans Francken)


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