Carta 61: Sobre encontrar a morte alegremente

Mais uma vez o assunto é a aceitação da morte e viver uma boa vida.  Logo no início Sêneca diz “Antes de envelhecer, tentei viver bem; agora que estou velho, vou tentar morrer bem; mas morrer bem significa morrer alegremente. Cuide para que você nunca faça nada de má vontade.” (LXI, 2)

A dica dada é fazer aquilo que gosta e evitar fazer coisas contra sua vontade:

“Aquele que acata ordens com prazer, escapa à parte mais amarga da escravidão – fazer aquilo que não quer fazer.” (LXI, 3)

Esta é uma situação muito comum atualmente.  As pessoas, convencidas que precisam de muito dinheiro, bens materiais e experiências caras se prendem em empregos, serviço público e trabalham longas horas fazendo aquilo que não quer fazer.

(imagem A morte de Sêneca por Jacques-Louis David de 1773)


LXI. Sobre encontrar a morte alegremente

Saudações de Sêneca a Lucílio.

  1. Deixemos de desejar o que desejamos. Eu, pelo menos, estou fazendo isso: na minha velhice, deixei de desejar o que desejava quando era menino. A esta única extremidade meus dias e minhas noites são passados; esta é minha tarefa, este é o objeto de meus pensamentos, – pôr fim aos meus males crônicos. Estou tentando viver todos os dias como se fosse uma vida completa. Não o arrebatarei de fato como se fosse o último; eu o considero, entretanto, como se pudesse mesmo ser meu último.
  2. A presente carta é escrita com isto em mente, como se a morte estivesse prestes a me chamar durante o próprio ato de escrever. Eu estou pronto para partir, e eu devo gozar a vida apenas porque não sou demasiadamente ansioso quanto à data futura de minha partida. Antes de envelhecer, tentei viver bem; agora que estou velho, vou tentar morrer bem; mas morrer bem significa morrer alegremente. Cuide para que você nunca faça nada de má vontade.
  3. O que é obrigado a ser uma imprescindibilidade se você se rebelar, não é uma imprescindibilidade, se você a desejar. É isso que quero dizer: aquele que acata ordens com prazer, escapa à parte mais amarga da escravidão, – fazer aquilo que não quer fazer. O homem que faz alguma coisa sob ordens não é infeliz; é infeliz quem faz algo contra a sua vontade. Portanto, fixemos nossas mentes para que possamos desejar tudo o que é exigido de nós pelas circunstâncias e, acima de tudo, que possamos refletir sobre o nosso fim sem tristeza.
  4. Devemos preparar-nos para a morte antes de nos prepararmos para a vida. A vida está bem mobiliada, mas somos muito gananciosos em relação aos seus móveis; algo sempre nos parece faltar, e sempre parecerá faltar. Ter vivido o suficiente não depende nem de nossos anos, nem de nossos dias, mas de nossas mentes. Já vivi, meu caro amigo Lucílio, o suficiente. Eu tive minha satisfação; aguardo a morte.

Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.